Para uma nova Bossa Nova a partir da Bossa Nova. 
(Em comemoraçâo dos 50 anos da  Bossa Nova)
Alejandro F. Della Sala
[1]

“...Rio é mar/Eterno se fazer amar/ O meu Rio é lua/Amiga, branca e nua. É sol, é sal, é sul/ Sâo mâos se descobrindo em tanto azul.”

                                Rio. (Roberto Menescal/Ronaldo Bóscoli)

I.- O contexto. II.- Seu desenvolvimento  sustentável . III-  As  projeçôes futuras.

 

I.- O contexto

                       

Assim como as viagens transoceânicas e os  descobrimentos  gerarão um novo mundo nos séculos  XVI e XVII, a  culminação da  II Guerra Mundial  originou uma nova forma de ver o  mundo.  Era  o  mesmo “carpe diem” ou  “viver o momento presente” do Renascimento o que motivou uma  série de  pensadores e artistas a  focalizar  suas criações e desenhos para  poder interpretar melhor a condição humana.

 

A  demostração da  inventiva humana para destruir tanto homem  como  natureza,  tanto  pelas  bombas atômicas como pelas convencionais,   gerou, por um lado, um  profundo sentimento de   desolação  e por u outro optimismo, ou seja, a possibilidade de  se conectar   de outra maneira com o  mundo, através do diálogo entre o homem e a natureza. Seus desenhos, por exemplo no plano da   arquitetura tinham  que se referir ao ambiente, ou seja, ao contexto  no qual se construía esse ou aquele  edifício o monumento.  Dali, a lógica  modernista das  construções  novas,  como  o acontecido na cidade de  Brasília.

 

Segundo  o  contexto da guerra fria  entre os principais donos do  mundo daquele momento – os quais eram os mesmos donos que na actualidade-  as questões internacionais começam a se desenvolver   com uma  lógica  amigo-enemigo mas sem originar outra  conflagração mundial de caráter devastador como o acontecido na  Segunda Guerra Mundial.  Era o que se denominava, a época da contenção mutua ou “mutual deterrence”.  Todos os Estados, ou ao menos os que estavam  em capacidade de faze-lo, rearmavam-se como metodologia de  acumulação  de poder,  mas sem  a necessidade de usar armas abertamente.

 

No plano econômico, tratava-se  de manter  a divisão entre países  desenvolvidos ou industrializados, dos outros subdesenvolvidos, ou seja integravam este grupo, todos aqueles  que não tinham ganhado a guerra e   particularmente   os que não tinham ajudado a ganhar a guerra.  

 

Nesse contexto, o Brasil, considerando que colaborou  com os  Estados Unidos, desde  a construção  de bases militares  no  nordeste brasileiro como parte dum programa de  cooperação e intercambio com aquele pais, até o envio dum pelotão de soldados  para lutar  do lado dos aliados em Monte casino na Itália, marcou definitivamente um diferencial importante com os outros países latino-americanos.

 

Nesse cenário  global, uma turma  de estudantes, logo  artistas   da zona sul do  Rio de Janeiro, originaram  uma  série de músicas que tomavam  elementos  do samba tradicional e o misturaram com o  jazz  de Cole Porter, Larry Hart y Gershwin, entre outros,  os boleros de Lucho Gatica e Francisco Alves, junto as  harmonias sofisticadas do modernismo  vindo da música clássica como os boleros  de Ravel  e a  influencia de Debussy.   Antes dessa época, alguns   compositores   tinham excursionado  na área do samba-canção, desde o  romanticismo dos boleros  até o  tango e as  milongas. Artistas como Dolores Durán, Maysa, Dorival Caimmi, o habilidoso advogado e  radialista  Ary Barroso – autor do clássico “Aquarela do Brasil” que  simbolizou o exalta samba já que punha foco nas belezas e valores do Brasil- contribuíram ao desenvolvimento desse novo estilo musical.

 

Também na década de 40, forma-se no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro da  Tijuca,  um grupo  vocal “Os Cariocas” inspirados nos   famosos grupos vocais da  época,   tais como o “Bando da Lua”, “Os Anjos do Inferno” e “Os quatro Ases e um Coringa”.

 

Por outro lado, a aparição de  músicos  tais como  Dick Farney,  Johnny Alf , Lúcio Alves através dos  clubes  denominados de “fã clubes” entre eles, o Sinatra- Farney Club e o  Ben Crosby- Lúcio Alves  criados no   Rio de Janeiro durante os anos 50, contribuíram  à expansão  da  bossa nova.  O fato  as pessoas pertencerem a estes grupos,  significava dar um passo adiante em material musical. Dalí, surgiram novos   autores de  bossa nova,  como no  caso do pianista, antes acordeonista,  João Donato seguidor de toda a movida jazzística e especialmente de  Frank Sinatra que “era a voz do momento”.  Ademais,   a mudança de  instrumento musical  foi importante para o desenvolvimento da bossa nova, já que do  acordeão  e da sanfona , os quais eram exemplos da música nordestina,  muda-se para o  piano e o violão,  como elemento primordial desta  “nova  onda que se respirava no ar”.  

 

Nesse  sentido, também   agrupavam-se  simplesmente   simpatizantes da   música, que logo depois  viraram  artistas  de renome  como  Ronaldo Bóscoli, Carlos Lyra, Nara Lêao – “ A musa da Bossa Nova”, Sylvina Telles,  Roberto Menescal, Tom Jobim, Jôao Gilberto, Milton Banana, entre outros.  

 

Na verdade, tanto cantores  quanto músicos em geral  da década de 40 e  50,  tinham obedecido ao estilo mas bem operístico de influencia  européia, vinculados  ao excesso  em suas  diferentes manifestações  que se misturavam com o tango e o  bolero  e as  baladas norteamericanas.

 

O suicídio do presidente Getúlio Vargas,  culpando  “forças  obscuras”  que queriam derroca-lo   por causa da  nacionalização da  empresa de petróleo Petrobrás, já que   o referido  presidente, no seu segundo período  constitucional de governo,  não pretendia fazer a  privatização total dessa  empresa  para consolidar uma verdadeira  política de estado que  se manteve – com seus altos e baixos-  até nossos  dias.

 

Logo depois dos anos 1950, muda-se o estilo operístico  e de “lácrimas derramadas”  por causa do engano amoroso e as ciúmes, tão comuns no  tango, no maxixe e no fado português, para  um  novo  estilo musical que recebia  influências de outras partes do mundo e adicionava  outras novas, sempre com a  idéia de experimentação musical.  Dessa maneira,   a  grande orquestra foi  substituída por um conjunto menor, mais camerístico com a utilização de violão, piano, percussão e baixo.  Também a voz segue este parâmetro intimista, passando a se colocar de outra maneira: é uma voz pequena, que dialoga com o  instrumento musical em vez de exibir sua própria potência.[2]

 

De fato, a  democracia no  Brasil daqueles tempos,   potenciou  o  surgimento deste tipo de música, da qual foi liderada pelo  bahiano Joâo  Gilberto, embora consideramos que essa liderança  tem sido acompanhada de outros  músicos,  ou seja,   sua liderança não foi única nem excludente.  Em tal caso, consideramos que todos os músicos  dessa época  contribuíram  ao surgimento desse estilo musical,  já que tinham sido uma verdadeira movida coletiva  da qual, ainda que tomaram de  base o  estilo especial de Jôao Gilberto, agregaram-lhe outros e difundiram esse  gênero musical  melhor do  que  qualquer   estrategia comercial moderna para colocarem algum produto no  mercado, seja nacional quanto internacional.

 

Portanto, a bossa nova não   se constituiu   como movimiento sob  uma liderança  determinada,  nem como  projeto coletivo vinculado através  de programas, manifestos  e  espírito combativo como foi o caso do  tropicalismo da  década de 60  constituído a partir  dos Centros Populares de Cultura (CPC) nas  diversas universidades, mas também com o  rechaço  da  ditadura militar  que assumiu o  poder “de fato” a partir de 1964 em diante.   Tratava-se duma  movida cultural que receptou o  otimismo  duma  época e o projetou para o  mundo todo, junto com outros ingredientes que potenciaram-na,   como   a circunstância de ter ganhado o mundial de futebol de 1958 na  Suécia, mesmo que a construção da cidade de  Brasília e o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek, entre outras questões daquela  época.

 

II.- Seu desenvolvimento  sustentável

 

 

A bossa nova também  tem sido inspirada no modernismo brasileiro dos anos 20, principalmente do  primeiro período “antropofágico” de 1922 a 1930 gerado por  artistas e escritores da  Semana de Arte Moderna do Teatro Municipal de Sâo Paulo de 1922,  por exemplo,  através do  estudio e aplicaçâo de técnicas de Heitor  Villa-Lobos que se inspiraram  no  modernismo da música clássica.   De fato, os músicos  daquela  época tomaram elementos   do samba  e misturaram-no com outros estilos musicais que acontecian  nesse  momento.

 

Entâo, poderíamos disser  que a primeira  vez que tem sido escutada  uma canção interpretada  “ao estilo  bossa nova”, ou seja,    através da  batida de  Joâo Gilberto e a voz  de Elizete Cardoso, foi com o lançamento do  LP “Cançâo de Amor Demais”  em 1958,  nas cançôes “Chega de Saudade” (por Tom Jobim y Vinicius de Moraes) e “Outra Vez” (por Tom Jobim).  A crítica  que se faz ao  mencionado LP  é  que na verdade, Elizete Cardoso  era uma cantante mais de maxixe  do que de bossa nova, por causa dela pertencer  a velha guarda do  samba-cançâo  da  década de  30 e de  40, mas o diferencial desse “LP” ,   era escutar  a nova “batida”, ou seja,  esse estilo especial de tocar violâo inaugurado  por Joâo Gilberto, o qual tanto voz quanto violâo  complementam-se   num  matrimônio perfeito, como se fossem dois eternos namorados.

 

Dessa maneira,  pode-se suster  que a bossa nova se constituiu num tripé,  cujas bases potenciaram este novo estilo musical, ou seja, por um lado, a batida de Joâo Gilberto como forma de tocar violâo no sentido de  representar o  sonido do samba “minimalista” más bem  reducida  as cordas do violâo,  assim  como por outro lado, a bateria   também percorre esse estilo  “de acompanhamento leve” por exemplo por meio de   bateristas como Milton Banana  e  posteriormente Chico Batera. A  segunda  pata  desse tripé   é constituido pelo  samba, mesmo assim com  elementos do jazz e  todo o esquema de “blue notes” desenvolvimos  por Cole Porter e Gershwin , o  bolero mexicano e o  impressionismo de Debussy e Ravel, como também  a influência de aqueles artistas da Semana de Arte Moderna de 1922, entre eles, o  compositor Villa Lobos.  E a  última pata desse  tripé  está conformada pelas  composiçôes de  Antonio Carlos Jobim e as letras de Vinicius de Moraes entre outros  autores que surgiram  a partir dessa data.[3] 

 

A data  precisa da  apariçâo no  mercado mundial da música ou seja   desde que se escutou  bossa nova oficialmente fora do  Brasil  foi o  21 de novembro  de 1962, na qual um  equipe completíssimo de artistas promovidos principalmente pelo  palacio  de Itamaraty – ou seja  o  próprio governo federal brasileiro-    em parceria com a gravadora  americana “Audio Fidelity” ,  foram  tocar  esse género musical, ao Carnegie Hall em  Nova York.  Destaca-se, ademais “da batida” de Jôao Gilberto que foi  sucesso nesse momento,  Tom Jobim, Luiz Bonfá, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, Sèrgio Ricardo, Carlos Lyra, o Sexteto Bossa, o infaltável  Roberto Menescal, Milton Banana, Bola Sete, Carmen Costa e Chico Feitosa entre outros.[4]

 

E no palco nâo estavam somente brasileiros, mas também outros gênios do mundo do jazz como   Miles Davis e Tony Bennet  que participaram do evento.  Ademais, no  Rio de Janeiro durante 1962 faziam  furor  o grupo “Os cariocas” com seus   45 dias de shows  na casa “ Au Bom Gourmet”.

 

Segundo o  compositor Carlos Lyra  numa   reportagem  realizada pela CBN –O Globo-   o referido recital no  Carnegie Hall de Nueva York foi o  momento no qual a  Bossa Nova  instalou-se no exterior e mesmo assim os músicos tomaram conciencia que estavam fazendo coisa seria.[5] 

 

Em vista disso, a música  bossa nova  espalhou-se no mundo enteiro e foi fonte de inspiração de artistas como Ella Fitzgerald, o saxofonista Stan Getz,  artistas francesas, e também o mítico Frank Sinatra.  No caso de  Joâo Gilberto,  a raiz do referido recital, ganhou  6 prêmios  Grammys e ficou um tempo nos  Estados Unidos junto a sua  esposa  Astrud Gilberto.  Assim  a bossa nova, como dizia Jôao Donato, engrandeceu o mundo do  jazz  e o  mundo jazzístico  a projetou para o  mundo.[6]

 

No caso de   Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Tom Jobim),  tinha se  formado na  escola de Kollenreuter  na década de 40.  Vale  destacar que Hans Joachim Kollenreutter era um músico alemâo que tinha-se  exilado do  nazismo e que introduz o  dodecafonismo no Brasil que fosse a sua vez criado  por  Arnold Schoenberg em 1912 e 1922.  Tratava-se dum  método revolucionário  de composiçâo,  baseado numa  substituiçâo da  tradicional tonalidad, na qual cada peça se  estructuraria  em  torno a uma determinhada secuência de doze tons.  Também Tom Jobim tomou elementos do músico  espanhol Tomás Gutierrez de Terán que tinha se radicado no Brasil por causa do projeto modernista de Villa-Lobos.[7]

 

A tropicália,  como a  expressão político-cultural da década de  60, tomou elementos da bossa nova, para incorporar elementos do  baiao, do kitch, do forró, também do  maracatú, jote, ciranda, frevo, samba de roda, rock inglés – nâo esquecer que nessa  época “The Beatles”  constituíam  “o moderno” e eram  sucesso no mundo enteiro-  mesmo também a música pop e brega.    Nesse sentido, pela circunstancia de misturar varios elementos e mesmo sem pretendê-lo,  tratava-se  duma música nacional mas que essencialmente   regional.

 

Portanto,  as músicas surgidas do período tropicalista  foram,  por um lado regionais e por outro lado, nacionais e universais, reencarnando o  modernismo de Oswald de Andrade dos anos 20 e em conseqüência,  mantenendo de alguma maneira, a mesma  “filosofia do universalismo” da bossa nova.

 

Mais recentemente,  podemos observar  alguns reflexos do tropicalismo  no   movimento “ Mangue Beach”, com a Naçâo Zumbi surgido no  estado de Pernambuco na  década de  90, os quais   misturavam  músicas nordestinas com  o rock. Também,  pode se ver um fenómeno similar nos artistas considerados de “neotropicalistas” como é no caso da Marisa Monte, dos Tribalistas,  Fernanda Porto,  Carlinhos Brown, entre outros,  cada um com suas características especiais, os quais preferentemente pegaram alguns elementos da  música eletrónica para fusioná-los  com o  acontecer local e  autóctone.

 

Embora a  tropicália tomasse, naqueles tempos, elementos  da música de protesto –especialmente contra os governos militares de outrora-  a importância da tropicália fica no intento de avançar num estilo musical próprio que tem supervivido até nossos dias.   Da mesma maneira aconteceu com a  bossa nova que sem  ser uma música de protesto, na verdade essencialmente   romántica, projetou-se até nossos  dias  por meio de cantantes como  Leila Pinheiro, Paula Morelembaum, Rosa Passos, Eliane Elías  o grupo samba cuca nova e na  Argentina,  Beto Caletti,  Adriana Ríos – ainda que carioca- e Agustín Pereyra Lucena, entre outros novos músicos  que têm  aparecido  como resultado do “ redescobrimento” para  as novas gerações  deste gênero musical do qual  já é parte da  história da música universal.

 

Destaca-se   neste ponto,  a importância dos  recitais  no  bar “La Fusa” realizados pelo  poetinha e  ex-diplomata Vinicius de Moraes, Toquinho, María Creuza e María Bethania,   tanto na cidade de Buenos Aires, como em Mar del Plata e posteriormente em Punta del Este (Uruguai),   os quais  novamente deram vida à bossa nova no  cone sul.  No meu caso particular,  foi precisamente através desses  recitais, reeditadas em  compactos,  meu primeiro encontro com a  bossa nova, encontro que até agora continuo pegando namoro, tanto de suas letras; quem dera eu pudesse dizer: “Eu sei que eu vou te amar, por toda minha vida eu vou te amar…”,  como  de suas  refinadas harmonias e contrapontos. 

 

Outro  fato histórico para a bossa nova  foi  a comemoraçâo feita em  Buenos Aires durante o percurso deste  ano  acontecidos em diferentes bares musicais e  especialmente com a  chegada de Roberto Menescal e dum  recital  mais do que bonitâo da Leila Pinheiro  no último 02 de Outuvro no  teatro Gran Rex, junto a músicos invitados do nível de Pedro Aznar assim como também Osvaldo Mederos no  bandoneón, fazendo uma verdadeira integraçâo cultural argentino-brasileña. Nosso comentário sobre o  recital, é que a   referida cantante brasileira  - pela maneira de cantar a través do uso de todos os   registros de sua  voz  ao estilo  Elis Regina e também pela  forma de tocar o piano e  de deslizar-se no  cenário, tem realizado um grande  recital na  “ rainha do prata” inclusive interpretando alguns temas do tango e samba crioula, todo o qual tem deixado a muitos  espetadores   “chocados” ou mas bem como  diriam os franceses da Nouvelle Vague: “à bout de souffle.” 

 

Na verdade,  a sustentabilidade  estética da bossa nova, foi  congruente  com o otimismo que imprimiu  o governo Juscelino Kubitschek – também chamado de  “Presidente Bossa Nova”- e sua utopía de construir Brasilia como “a capital do futuro” e  assim avançar  cinquenta anos em cinco.  Daí que a  arquitetura de Oscar Niemeyer adotou a  mesma lógica  de concepção construtivista,   que orientava o concretismo e o neoconcretismo  nas artes plásticas e na poesía, no sentido de   buscar  uma integraçâo  com o  da industria e a  comunicaçâo de massas que resurgia  naqueles tempos com uma força imparável.[8]  

 

Portanto, o “desenvolvimento sustentável”  da bossa nova, se explica pela circunstancia  de ter sido o  instrumento articulador duma  época que saia da  guerra mundial, mesmo assim como  modo de superar o subdesenvolvimento e com a introduçâo num mundo dominado pelo desenvolvimento  tecnológico,  fatores que consideramos se projetaram até nossos dias, daí a vigência e a  “sustentabilidade” deste  particular estilo musical. 

 

III-  As  projeçôes futuras. 

                          

A ideia de realizar esta monografia, além de pretender que tenha sido uma contribuiçâo para lembrar os  50 anos da bossa nova,  seria   pensar num novo  estilo musical que contribuisse de  alguma   maneira para todos nós sejamos mais felizes e aliás, tenhamos maior cuidado na preservaçâo da natureza e do meio ambiente em geral.

 

Portanto, entendemos que  a bossa nova, tem logrado o  objetivo de mostrar  um pais otimista, inclusive “saudável” –levando em consideraçâo a moda das  “terapias alternativas”- num mundo que superava o  horror da guerra, potenciado por duas  bombas atómicas de destruçâo  masiva , além de nâo saberem se ia acontecer outra guerra dessas caraterísticas.

 

Dessa maneira,  uma música tâo bela como a bossa nova surgia como  resposta as agressões bélicas, mas também como mensageira da paz  e liberdade no estado natural.   E que melhor mensagem de preservação da natureza  do que a  bossa nova, cujos compositores adoravam o mar, devido ao fato de vê-lo todos os dias num cenário tâo natural como é a  cidade do  Rio de Janeiro, o qual,  imaginamos  seja muito mais  preservado na  década de  60  do que  na  atualidade.  Nesse sentido, o   jornalista  e escritor carioca  Ruy Castro disse: “ …No dia em que se reescrever a Constituiçâo, um dos novos artigos dirá: Todo brasileiro tem direito a um cantinho e um violâo. Tem direito também a cidades sudáveis, matas verdes, céus azuis, mares limpos e seis meses de verâo. E tem direito ainda a andar na praia, namorar gente bonita a ser feliz.”[9]     

                     

Em consequência, se tivéssemos que reescrever o anteriormente manifestado para uma  Constituição ou Carta Magna  do MERCOSUL  num futuro provável e em vez da palabra “brasileiros” lhe agregássemos,   “todos os   habitantes  do MERCOSUR tem direito a…”, seria uma boa jogada geoestratégica   para  o século XXII inclusive.   Assim, a   reciente declaraçâo dos  países do MERCOSUL  contra das medidas sobre a inmigraçâo  ilegal  da Uniâo  Européia,  constituem  a base dum MERCOSUL que nâo é só um espaço regional de  intercambio económico,  antes que incorporaria  questiôes culturais  que afetam  aos povos na sua própria individualidade.

 

E  como também  afirmava  Ruy Castro,   “…Quando ninguém falava em paz, saúde e ecologia, essa já era a plataforma da Bossa Nova.”  E como esses temas atualmente estâo em foco de debate e  pareceria que  têm  sido considerados nas aspiraçôes nacionais, a  bossa nova tem voltado  a ser  a trilha sonora  dum Brasil ideal,   nós  diríamos,   duma  latinoamérica ideal.[10] 

 

Neste ponto nâo podemos deixar de levar em conta, que o  Brasil é fruto duma cultura  antropofágica, cuja característica  fundamental  é a deglusâo de diferentes culturas para melhorar a própria,  sustentada na miscigenaçâo e na universalidade  de raiz multiétnica.

 

Embora a história do brasil tenha sido construida de maneira diferente aos outros países latino-americanos, também existem pontos em comum,  especialmente levando em conta sua   raiz  comum  ibérica, fundada nessa grande ilha tupi-guaraní.  Por isso consideramos, a idéia de fomentar a  construçâo de   pontes desde e hacia a “ilha Brasil” vai ser uma das tarefas a seguir nos próximos  anos.

 

Em  resumo,  entendemos que existe uma “lógica relacional”,  que na área da política aparece com o nome de   negociaçâo, mediaçâo e conciliaçâo,  que no mundo econômico  surge  como uma combinaçâo de uma  economia  fortemente estatizada com uma vigorosa iniciativa privada. Que na religiâo aparece com a intrigante mistura de catolicismo com religiôes  afro-populares.[11]  

 

E no universo da música, com a mistura de  ritmos africanos com européios e indígenas  junto com a bossa nova,   sintetizava-se  tudo aquilo e agregava-se ao mesmo tempo o que vinha acontecendo na década dos anos 50 e 60. Na verdade, tratava-se dum país   que avanzava rapidamente e que o principal motor da economia mundial, ou seja os Estados Unidos, estava ligado ao Brasil pela compra de   café  e de certos desenvolvimentos conjuntos.  

 

Ademais, nâo temos de esquecer que a  Administraçâo  Nacional da  Aeronáutica e do  Espaço (NASA) dos  Estados Unidos,   a qual cumpliu  50 anos o passado 24 de setembro de 2008 como no caso da  bossa nova,  tinha efetuado investigaçâo e desenvolvimento (I +D)  durante mais duma década para por o homem na lua antes de  1970.

 

E todo o qual, como diz o   sociólogo brasileiro Roberto da Matta  leva-nos   à  pergunta:  “O que faz o brasil, Brasil?”.  E a resposta  que poderiamos ensaiar seria em relaçâo a essa  capacidade de “misturar elementos contrapostos” , de  potenciar os  comandos relacionais,  de combinar  os  elementos polidos das leis com o acontecer cotidiano, de interligar  vida e muerte através do outro mundo que seria a  religiâo, de utilizar  a música  em todo momento para fazer esse tipo de mistura.

 

Afinal, lembrar  os 50 anos da bossa nova  nos ajuda a reflexionar  sobre o passado que tivéssemos e talvez desde o cone sul nâo soubessemos  compartilhar  com o futuro, com o qual a  bossa nova, reapareça novamente  como sinônimo de  unidad  e  de fusâo do passado com o  futuro. Dai, a ideia de intentar  reeditar uma nova bossa  a partir da bossa nova.  E assim como na  década de  50, a  bossa nova tem sido uma  revoluçâo  cultural que instalou-se  no primeiro mundo, agora poderia se  utilizar  uma nova maneira de fazer música para gerar nos países do cone sul o  objetivo de “instalar” esse comando relacional  no  mundo  atual e pós-moderno. Como dizia no caso  Roberto   Da Matta: “... Seria preciso carnavalizar  um pouco mais a sociedade como um todo, introduzindo os valores dessa festa relacional em outras esferas de nossa vida social. Com isso, poderíamos finalmente  aprofundar as possibilidades de mediaçâo de que, estou seguro, o mundo contemporâneo tanto precisa. Nem tanto o desencanto crítico que conduz a um primado cego do individualismo como valor absoluto; e nem tanto o primado igualmente cego da sociedade e do coletivo, que esmaga a criatividade humana e sufoca o conflito e a chama das contribuçôes pessoais. Talvez algo no meio. Algo que permita ter um pouco mais de casa na rua e da rua na casa. Algo que permita ter aquí, neste mundo, as esperanzas que temos no outro. Algo que permita fazer do mundo diário, com seu trabalho duro e sua falta de recursos, uma espècie de carnaval que inventa a esperanza de dias melhores.”[12]

 

E fazer, como dizia o  tema “O Barquinho” , um “Dia de luz, festa de sol/E um barquinho a deslizar/ No macio azul do mar//Tudo é verâo e o amor se faz/Num barquinho  pelo mar/ Que  desliza sem parar”,  que   na estrutura   luminosa e futurista da bossa nova, acompanhou aos  artistas desse género musical que conquistou o mundo, sendo patrimônio da humanidade.  

 

Tomara que este século assuma as harmonías da bossa nova e o  compromiso político-social do tropicalismo, para gerar   uma nova bossa nova cuja base seja a própria  bossa nova  por todos conhecida,  sem perderem de vista suas raizes culturais nem sua filosofia de paz.  E  que  seus próximos  50 anos, sejan  festejados  com o mesmo otimismo que gerou essa turma toda de artistas modernos, na mesma praia, com a mesma areia  e com o mesmo mar.

 

[1] Advogado, Mediador, Magíster em Direito Empresário e Magíster em Defesa Nacional, colaborador de revistas jurídicas como lexis nexis jurisprudencia argentina, aduananews e literárias  como Letras de uruguai e  Logogrifo da editorial ala de cuervo de Venezuela, Encontro Literário da Academia Mineira de Letras  entre outras, nível intermediário de português língua estrangeira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)- Casa do Brasil de Buenos Aires, estudante de português nível proficiência, residente em Buenos Aires, Argentina.

Fontes de pesquisa: 

 

[2] Cfr. CAMBRAIA NAVES, Santuza, Da Bossa Nova a Tropicália, Jorge Zahar Editor,  Rio de Janeiro, 2001, pág. 13.

[3] Cfr. CAMBRAIA NAVES,  Santuza, op. cit., pág. 22.

[4] Cfr. CAMBRAIA NAVES,  Santuza, op.cit., pág. 24. 

[5] Cfr. El podscats, “Como a Bossa Nova conquistou o mundo”. Realizado pela CBN, 11/4/08 Da qual  eu sou  ouvinte torcedor . Trata-se de uma serie de reportagens realizados pelo jornalista Juan Carlos Santana,  http// cbn.com.br/séries/ os 50 anos da Bossa Nova. Acc. 6/10/08.

[6] Cfr. http//cbn.com.br/ séries/ op.cit. ibídem.

[7] Cfr.  CAMBRAIA NAVES, Santuza, op. cit., pág. 17. 

[8] Cfr. CAMBRAIA NAVES, Santuza, op.cit. pág. 30.

[9] CASTRO, Ruy, A Onda que se Ergueu no Mar – Novos mergulhos na Bossa Nova-, Compañía das Letras, Sâo Paulo, 2001, pág.19.

[10] Cfr. CASTRO, Ruy, op.cit., ibídem.

[11] Cfr. DA MATTA, Roberto, O Que Faz o brasil, Brasil?, Rocco, Río de Janeiro, 1986,  págs. 119-20.

[12] DA MATTA, Roberto, op.cit., pág. 122.   Para entender  a utilização das palavras  “casa e rua”,  o autor destaca  no livro  “A Casa e a Rua”  que  na  sociedade existem dois  comandos relacionais, os da  ordem e das leis como  sinônimo da sociedade hierarquizada, que  os individualiza com o termo  “rua” e os referentes ao termo “casa” seriam os costumes e leis não escritas que constroem o universo familiar e o autor combina os dois conceitos mencionados para explicar o equilíbrio que deveria existir  entre eles para que uma sociedade seja mais harmônica. Também o referido autor fala do  “outro mundo” como parte duma  estrutura triangular, na qual coloca as crenças no mais além e à religião e a interação desses termos numa sociedade.

Pesquisa na Internet:  Arquivos da cbn.com.br. (rede O Globo) e http:// www.luciaverissimo.com.br/oscariocas/biografia.htm. acc. 8/10/08.-

 

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Dr. Alejandro Della Sala  

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