Há
muito tempo não venho ao Galo da Madrugada, o maior
bloco de carnaval do mundo. Nele, ganhei, perdi amores,
ilusões e desafetos. Passeio cedinho entre foliões
ansiosos no Forte das Cinco Pontas aguardando a saída do
bloco; acontecerá em poucos minutos.
Palhaços e colombinas, piratas, damas da
corte, todos querem ser o outro por um dia; reconheço um
sonho antigo meu: o que seria se eu não tivesse nascido
neste corpo?
Talvez fosse aquele homem careca, barrigudo;
fantasiado de Super-Homem, esconde uma vida de servidor
público, todos os dias a mesma rotina, a mulher o
abandonou em busca de aventuras, os filhos adultos o
visitam no Dia dos Pais.
Ou quem sabe seria aquela moça baixinha?
Fantasia de havaiana, tudo são flores e coloridas.
Passou no vestibular de Letras, mas não colocou um
band-aid rosa na sobrancelha porque o namorado não iria
gostar. Sonha com uma casinha branca de janelas azuis,
cinco filhos e um longo felizes para sempre.
Mas me agrado com o Aladim. Por mim passa, uma
caipirosca na mão direita, a esquerda levantada cantando
Voltei Recife. De algum porto distante navegou e navegou
porque era preciso; ganhou, perdeu amores, ilusões e
desafetos. |
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