Recife e a América Latina
Humberto França

A Região Centro-Sul do Brasil  mantém  um esforço permanente para promover os seus valores culturais e literários em outros países e nas demais regiões brasileiras. Ocupa um espaço tal, que aos olhos dos estrangeiros, o Brasil começa e termina no eixo Rio – São Paulo – Minas Gerais.   A atração que o Centro-Sul  exerce, impulsionada pela prevalência de sua economia, dificulta a divulgação e, conseqüentemente, a inserção da produção intelectual dos outros estados, nas agendas internacionais de cultura e literatura. É verdade que, do Sergipe ao Amazonas, produtos  de indiscutível qualidade cultural e literária permanecem ignorados porque não são divulgados em outros países e nos demais estados.A Bahia é a  única  exceção à regra, porque possui um histórico de iniciativas bem-sucedidas para a promoção de sua baianidade.

 

Diante desse cenário, Pernambuco, por se constituir num pólo de concepção e movimentação cultural, notadamente literária, deveria ampliar o projeto de divulgação cultural nos estados do Centro-Sul e nos países latino-americanos. Alguns dos nossos ficcionistas, poetas e críticos literários se destacam no ambiente intelectual brasileiro e, portanto, poderíamos desencadear um movimento  para levar ao conhecimento do público sudestino e latino-americano,  a literatura e as artes produzidas nos  Estados do Norte e Nordeste. Historicamente, o Recife tem sido um dos pontos de convergência da cultura brasileira, assim sendo,  a partir da nossa cidade, poderemos ampliar o diálogo com os Estados do Norte e do Nordeste, para promovermos, em conjunto, esse projeto cultural.

 

Outro objetivo, seria focalizar também os países hispânicos da América do Sul, onde há quase um total desconhecimento da Língua Portuguesa, da literatura e da história  do Brasil.  Em recente palestra realizada pelo articulista no auditório da Embaixada do Brasil em Buenos Aires, a respeito  da produção poética recifense, quando do lançamento da edição bilíngüe do seu livro La Noche de un día, pela Editora Francachela, a audiência de escritores e convidados argentinos demonstrou  surpresa porque, ao fim do discurso, todos entenderam claramente o Português. Este fato igualmente se repetiu em algumas outras ocasiões, quando os escritores  Sílvia Longhoni, Norma Perez, José Burucua, - Horácio Castillo -, este, considerado pela crítica argentina, um dos maiores poetas da Língua Castelhana, expressaram o interesse dos argentinos pelo conhecimento da nossa língua e da nossa literatura. Destaque-se, neste sentido, o trabalho incansável do  escritor José Kameniecki, editor da Revista  Francachela, que tem realizado notável divulgação da literatura brasileira, na Argentina.

 

No ambiente cultural da capital portenha, é crescente o interesse pela literatura brasileira e pelo estudo da língua portuguesa. No Ministério da Cultura de Buenos Aires,  a diretora, Sandra Diáz, no momento,  desenvolve um projeto para instaurar um diálogo cultural entre Recife e a capital Argentina.  Naquela cidade, o Centro de Estudos Brasileiros, sob a competente direção da Dra. Camila do Valle,  acolhe centenas de argentinos em busca de uma maior conhecimento da nossa cultura, língua e literatura. Várias outras instituições culturais brasileiras, instaladas na América do Sul, têm registrado uma indiscutível interesse pelo Brasil.

 

Uma importante nação sul-americana, a Colômbia, também deveria ser reconhecida pelos brasileiros. O interesse dos colombianos pelas  artes plásticas e a sua excelente produção de artesanato, que em si abriga os traços da herança pré-colombiana e espanhola, oferecem possibilidades de diálogo cultural com os estados nordestinos, especialmente com Pernambuco. Igualmente, cidades colombianas,  como, por exemplo,  Cartagena de las Índias, - uma Olinda no Caribe -, as praias, a musicalidade, as danças, a excelente culinária, a magia das tradições e a literatura colombiana, se divulgadas, poderão instaurar um diálogo multicultural entre o Nordeste e a Colômbia. Este país tem surpreendentes aproximações com a nossa região. Abrem-se, portanto, novas vias que, atravessando o território brasileiro, poderão nos aproximar daqueles povos vizinhos e também detentores de tantas sinergias com a população nordestina, dos quais, estivemos tão afastados no decurso de nossa história. Não somente a Colômbia, mas o Peru, a Venezuela, o Equador, o Chile e os países do Mercosul formam um eixo de intensa presença de culturas de raízes afro, indígenas e ibéricas,  e isto nos convida a uma integração cultural que é, decerto, para os nossos povos, irrenunciável.

Humberto França
Diário de Pernambuco
Recife, edição de sábado, 8 de dezembro de 2007

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