Horácio Castillo, a poesia perfeita  
Humberto França 
escritor

O argentino Horácio Castillo é um dos mais reconhecidos poetas da Língua Espanhola, membro Academia Argentina de Letras, da Sociedade de Escritores da Grécia e sócio correspondente da Real Academia Espanhola. Recentemente, foi eleito para o Conselho Consultivo do Projeto Festlatino.

A sua refinada linguagem poética está permeada por conteúdos filosóficos, o que se explica, sobejamente, pelos conhecimentos que o poeta detem a respeito da História Antiga. O seu assombroso conhecimento da  literatura da Idade Clássica o faz possuidor da maior biblioteca de literatura em língua grega da América Latina. O seu abeirar-se do conhecimento da herança daquele mundo perecido, mas cuja cultura persiste imorredoura, poderá justificar a presença da tradição dos poetas, sobretudo dos gregos e neo-gregos, por exemplo, Constantino Kavafis -, de cuja obra é exímio tradutor, em sua criação literária. E isto também se atesta pela leitura de um fragmento de um texto de sua autoria: “Vivemos, para dizer como o conhecido verso de Hörderlin, em tempos de “indigência”, não somente porque os deuses têm se retirado do mundo, senão – e aqui está o drama atual – porque o homem se está afastando de si mesmo, do seu dever de ser transcendente...”.

São consideráveis as análises críticas à obra de Castillo. Num desses trabalhos de maior fôlego, um scholar da Universidade Nacional de La Plata, Argentina, Gustavo Martínez Astorino, empreendeu um erudito estudo da poesia de Horácio Castillo, utilizando-se do conceito de alegoria encontrado na obra de Walter Benjamin: “A origem do drama barroco alemão.” Juntaram-se a esse esforço, os exercícios críticos de Ricardo Herrera, ensaísta, também tradutor de poesia grega, com o seu ensaio: “Amanecer junto a árbol de la carroña”. Igualmente, ressaltam-se as interpretações de Pablo Anadón: “El ojo núbil de la noche” (1999). E acrescente-se um trabalho de Cristina  Pina: “La precisión desaforada” e, ainda, a precisa obra do Dr. Rodolfo Modern: “Horácio Castillo o a realidad como pré-texto”.

Gustavo Astorino, igualmente, situa Horácio Castillo como um dos mais combativos intelectuais argentinos dos anos de 1970, durante o período ditatorial na Argentina. Para sustentar sua afirmação, o ensaísta aponta para um poemário de Castillo, que de modo algum parece uma ... “obra engajada”, mas está substanciado em uma linguagem sofisticada que contem uma dura crítica e uma tomada de posição diante dos horrores da ditadura argentina. A este respeito, o articulista citaria o poema “Trem de gado”, que embora lembre a trasladação dos milhões de judeus e de outros condenados pelo regime hitlerista, após uma leitura apurada, exibe as nuanças do trágico destino humano sob todas as formas de ditadura, sobretudo a nazista e sua prima-irmã, a comunista. No seu retiro em La Plata, o poeta que recebeu o Prêmio “Escritor da Neolatinidade”, continua a produzir a sua poesia de conteúdos geniais e a atuar culturalmente, tendo traduzido os poemas do livro A Noite de um dia, do articulista.

Humberto França 
escritor
DIARIO DE PERNAMBUCO (Fundado em 1825)  
Recife 
Edição de Quarta-feira 18 de Fevereiro de 2009

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