De Repente, nas Profundezas do Bosque, de Amós Oz

por Remisson Aniceto

Uma fábula onde os animais não falam, mas fala-se deles e do seu desaparecimento do bosque numa noite de tempestade. Alguns habitantes mais antigos da aldeia afirmam terem visto quando a sombra de Nehi, o demônio, passou pelo bosque levando atrás de si muitas outras sombras, às quais juntaram-se todos os animais: carneiros, raposas, tigres, jumentos, vacas, cobras, insetos, aves...
Desde então, paira sobre a aldeia a seguinte dúvida: todos aqueles animais teriam mesmo existido ou seriam apenas lenda dos aldeões mais velhos? Estes dizem aos jovens que é perigoso entrar no bosque, pois o demônio Nehi poderia levá-los, assim como fez com todos os animais. A desconfiança e o medo são constantes na aldeia.
Porém, há duas crianças, Maia e Mati, destemidas e curiosas, que contrariam todos os conselhos e entram no bosque. Elas encontram pelo caminho um peixe dourado, um homem assando batatas e até um menino da sua escola, que sofria humilhações dos colegas por ser diferente de todos.


As crianças avistam, finalmente, um lindo palácio, com um jardim todo enfeitado e iluminado pelos vaga-lumes, onde estavam todos os bichos que haviam desaparecido do bosque. Aquilo lembrava o paraíso, onde reinava a paz e a tranqüilidade, sem predadores, com todos os animais vivendo entre plantas, flores, gramas e árvores frutíferas. Havia até um arbusto cujos frutos tinham sabor de carne, para os animais carnívoros. E o feiticeiro Nehi e todos os animais falavam a mesma língua..


Maia e Mati ouvem de Nehi que os bichos fugiram do bosque para escapar dos maus tratos e do extermínio a que estavam submetidos pelos humanos. Os cavalos eram chicoteados, os pássaros eram mortos a tiros, as vacas sofriam nos arados, os insetos eram envenenados... Nehi, então, criou aquele palácio e aquele jardim para os animais viverem em segurança, longe do alcance dos homens.
Amós Oz, escritor israelense já bastante conhecido no Brasil, nos apresenta uma fábula diferente, onde o conceito tradicional de bom e mau adquire outras feições. O demônio, aqui representado pelo feiticeiro Nehi, assume no texto outras características, torna-se a imagem da bondade, daquele que estende a mão ao injustiçado, daquele que salva.

Há duas mensagens bem claras neste livro: devemos preservar a natureza e aceitar as diferenças dos outros, aprendendo a conviver com elas, cultivando um mundo sem discriminação.

Remisson Aniceto

Gentileza http://remissonaniceto.bligoo.com 

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